Hoje eu adoro ver a reação das pessoas quando digo que pedalei SOZINHA
o Caminho Francês de Santiago de Compostela - 854Km ! Uns arregalam os olhos e
falam "Nossa que coragem! , outras falam " Que loucura!" e raras
almas aventureiras dizem " Deve ter sido incrível"!
E foi incrível.
Há quem acredita que se alguém
está sozinho é por falta de opção. Quase nunca passa pela cabeça das pessoas
que é justamente o contrário: uma escolha consciente de dar um tempo para ficar
com você mesma, se abrir para os lugares e as pessoas e, se perigar, até se
conhecer melhor. Mas a decisão de viajar sozinha implica uma serie de cuidados
e planejamento. Não são apenas diferenças culturais ou questões de segurança
que martelam a cabeça de quem viaja sozinho, especialmente se o viajante for
uma mulher. Informações prévias fazem toda a diferença e a mais importante
delas é a escolha do roteiro. E foi aí que pensei: porque não o Caminho de
Santiago de Compostela?
Seguir uma das rotas consagradas na Idade Média até a capital da Galícia seria uma experiência inesquecível. Estava com um bom preparo físico, com disposição para abrir mão do conforto e com muita curiosidade. Sou uma pessoa muito curiosa pelas coisas do mundo.
Comecei então a minha busca por informações, e cada vez ficava mais segura com relação à minha escolha. Não faltaram relatos e mapas para ler e reler.
Optei por fazer o Caminho Francês apenas por pesquisar e ver que esse, entre os caminhos existentes, é o mais longo de todos, o mais conhecido e percorrido também. Normalmente as pessoas escolhem fazer de bicicleta por motivos relacionados ao tempo de travessia. Eu não tinha pressa, mesmo estando de bike.
Quanto à bike decidi alugar, uma opção mais cômoda. Não é necessário transportá-la nem na ida nem na volta, basta contratar o aluguel no dia do início da viagem e devolvê-la no final. Eu não tive problema com a necessidade de saber com antecedência o dia exato do término da viagem. Como havia lido que a etapa para percorrer o caminho de bike leva pelo menos 15 dias, aluguei uma por 20 dias e fui tranquila, sem pressa. Outro cuidado que tive foi aprender sobre a mecânica; aprendi trocar pneus e cuidados com a manutenção. Afinal eu iria sozinha e sabia que oficinas só nas cidades maiores. Aprendendo sobre manutenção, percebi que não existe nada em uma bicicleta que uma mulher não possa fazer.
Minha viagem começou no dia 11 de setembro de 2015 com uma rota pré-definida: pensei em cada detalhe de cada etapa e todas as possibilidades. Com mapa na mão e uma lista de albergues, hostels e hotéis segui para minha primeira viagem de bike solo, mas não solitária.
Seguir uma das rotas consagradas na Idade Média até a capital da Galícia seria uma experiência inesquecível. Estava com um bom preparo físico, com disposição para abrir mão do conforto e com muita curiosidade. Sou uma pessoa muito curiosa pelas coisas do mundo.
Comecei então a minha busca por informações, e cada vez ficava mais segura com relação à minha escolha. Não faltaram relatos e mapas para ler e reler.
Optei por fazer o Caminho Francês apenas por pesquisar e ver que esse, entre os caminhos existentes, é o mais longo de todos, o mais conhecido e percorrido também. Normalmente as pessoas escolhem fazer de bicicleta por motivos relacionados ao tempo de travessia. Eu não tinha pressa, mesmo estando de bike.
Quanto à bike decidi alugar, uma opção mais cômoda. Não é necessário transportá-la nem na ida nem na volta, basta contratar o aluguel no dia do início da viagem e devolvê-la no final. Eu não tive problema com a necessidade de saber com antecedência o dia exato do término da viagem. Como havia lido que a etapa para percorrer o caminho de bike leva pelo menos 15 dias, aluguei uma por 20 dias e fui tranquila, sem pressa. Outro cuidado que tive foi aprender sobre a mecânica; aprendi trocar pneus e cuidados com a manutenção. Afinal eu iria sozinha e sabia que oficinas só nas cidades maiores. Aprendendo sobre manutenção, percebi que não existe nada em uma bicicleta que uma mulher não possa fazer.
Minha viagem começou no dia 11 de setembro de 2015 com uma rota pré-definida: pensei em cada detalhe de cada etapa e todas as possibilidades. Com mapa na mão e uma lista de albergues, hostels e hotéis segui para minha primeira viagem de bike solo, mas não solitária.
O Início
A tradução de Saint Jean Pied de Port significa "São João ao Pé da Montanha". Faz sentido! A cidade fica num vale, praticamente aos pés dos Pirineus, está cercada de montanhas e é banhada pelo Rio Nive. É uma das cidades mais bonitas do país basco francês. Cheia de charme! Fiquei na cidade por dois dias. Tinha tempo e queria muito explorá-la com calma.
Aluguei minha bike no site
www.bicigrino.com. Todo o meu contato foi com Tomas Sanches através de e-mails
e, conforme planejado, minha bike
chegou ao hostel onde fiquei hospedada (Hostel Gite Ultréia), sem nenhum
problema. Ela vem embalada e a única coisa que precisei fazer foi colocar os
pedais. Próximo ao Hostel há uma oficina de bikes e para garantir se estava tudo ok e também ajustar
a bike levei-a para uma revisão.
|
A credencial do Peregrino é
indispensável e exclusiva para quem percorre o Caminho. Renovando a tradição
das cartas de apresentação ou "salvos-condutos" dos peregrinos
medievais, com ela é possível pernoitar em albergues especiais, igrejas e
monastérios ao longo de todo caminho. Nela, há várias lacunas em branco onde
devem ser marcados com carimbos os lugares em que o peregrino passe ou se
hospede, a fim de comprovar seu percurso. Fiz meu primeiro carimbo e adquiri a
concha vieira, um dos símbolos dos Peregrinos.
Agora é hora de começar meu
caminho ...
Portão de St-Jaques |
Saí de Saint Jean pelo Portão de
St-Jaques. Nele se inicia todo o processo de caminhada. Em 1998, a UNESCO o
decretou como patrimônio da humanidade, parte do Caminho de Santiago localizado
na França. Por aqui, circulam peregrinos do mundo inteiro. Pessoas que aguardam
pelo início de sua jornada e outras que já estão nela há mais dias. Pessoas que
estão depositando todo tipo de sentimento nessa trajetória. Para cada um, o
Caminho tem um significado. Passar alguns momentos observando tudo isso,
sabendo que você também faz parte dessa movimentação, é muito prazeroso!
Etapa 1
SJPP/Honto/Orisson/ Roncesvalles
|
Chegando ao pequeno povoado, já
procurei o albergue municipal, o Real Colegiata de Santa Maria de Roncesvalles.
Não havia vaga. Então selei minha credencial, fui para a oficina de turismo buscar informações. Fiquei hospedada no Hotel Roscesvalles.
À noite, fui visitar a igreja e
assistir à missa dos peregrinos que acontece diariamente; após a cerimônia,
fomos todos abençoados em meio a sonoros e afinados cantos gregorianos,
entoados pelos padres celebrantes. Emocionante!
Etapa 2
Roncesvalles / Burguete / Espinal / Viscaret / Zubiri / Larrasoaña / Trinidad de Arre / Pamplona
Total – 54,5km
O dia amanheceu com o
tempo bastante fechado e com chuva. A recepcionista do hotel me avisou sobre a
meteorologia prevista para o dia - "o dia todo hoje é de fortes
tormentas". Bom, eu não tinha pressa; portanto revolvi esperar. E
realmente pela manhã choveu muito. Já estava decidida a ficar mais um dia no
pequeno povoado, quando, por volta do meio-dia, o sol saiu como me dizendo ...
vá! E eu fui.
Segui pedalando. Logo passei por
Burguete e depois Espinal. Em Espinal, as casas possuem decoração com brasões
familiares e armas. Achei o máximo!
Após 5 km passei por Viscaret. Foi quando começou a chover forte novamente; parei em uma lanchonete e esperei. Por sorte a tempestade não demorou a passar.
Após 5 km passei por Viscaret. Foi quando começou a chover forte novamente; parei em uma lanchonete e esperei. Por sorte a tempestade não demorou a passar.
Segui a caminho de Zubiri. Zubiri significa: "aldeia da ponte", em basco. É a principal cidade do Vale do Esteribar e ainda se mantém conservada, com algumas características do século 18, apesar de ter sofrido intervenções recentes. As placas de sinalização mostram os nomes das cidades em espanhol e também em euskera, que é a língua basca. A excelente conservação dos pequenos pueblos navarros deixam tudo mais belo ainda.
Após Larrasoaña, passei por Zabaldika. Pouquíssimas casas com características dos séculos 17 e 18 e uma igreja - Igreja de Santo Estebam, datada do século 13. Em Trinidad de Arre, um pequeno povoado nos arredores de Villava. Quatro quilômetros depois de Villava e de um dia complicado - com alguns trechos difíceis por causa do barro e da chuva, eu cheguei a Pamplona - destino final da etapa de hoje.
Pamplona
Cidade de fronteira também é
murada. A primeira grande cidade do caminho francês, é a capital da comunidade
autônoma de Navarra, e costumava ser a capital do antigo Reino de Navarra. Uma
bela cidade fortificada. Aqui fiquei hospedada no Hotel Europa. Depois de me
acomodar, fui explorar a cidade.
Pamplona é famosa por sua
tradicional Festa de São Firmino. Essa festa acontece entre os dias 6 e 14 de
julho. É tão importante para os espanhóis como o Carnaval é para nós,
brasileiros.
Então minha primeira visita foi à
Praça dos Touros onde termina a corrida, ou “encierro” como é chamada pelos espanhóis.
O evento acontece todos os anos, desde 1590, em homenagem ao padroeiro da
cidade. O jogo funciona assim: um grupo de malucos tem de correr dos touros por
849 metros em três ruas do centro histórico de Pamplona até a "praça de
touros". Dura de 3 a 4 minutos, tempo suficiente para causar grandes
estragos: ferir os animais e as pessoas ao redor. Estima-se que 15 pessoas
tenham morrido nos encierros entre 1922 e 2009. Uma tradição tão antiga quanto a
própria cidade.
Praça dos Touros |
Os lenços vermelhos estão em toda cidade
|
Dizem que a cor do item, obrigatório durante os nove dias de celebração, é uma recordação do martírio de São Firmino, já que simbolizaria o sangue do santo. Outros afirmam que o vermelho é utilizado por fazer alusão à cor da bandeira de Navarra ou porque é a cor de incitamento dos touros.
Depois da Praça dos Touros segui caminhando até a Catedral e o Castelo
A catedral gótica francesa foi
construída nos séculos 14 e 15, sobre as ruínas de uma catedral românica
anterior. No século 18, foi adicionada uma fachada neoclássica. A torre norte,
detém o maior sino ainda em uso na Espanha, pesando mais de dez toneladas.
Catedral de Santa María la Real
segui explorando a cidade...
O castelo e a Fortaleza
Construído entre 1571 e 1645,
depois da conquista castelhana, a área é hoje o pulmão verde de Pamplona.A
vista é linda!
Etapa 3
Pamplona / Cizur Menor / Zariquiegui / Uterga / Muruzábal / Obanos / Puente La Reina / Mañeru / Cirauqui / Lorca / Villatuerta / Estella.
Total - 51,9Km
Na Espanha, mais precisamente no
Caminho de Santiago, em setembro, o dia começa a clarear aproximadamente às 8h da manhã.
Então, diferente dos peregrinos que saem muito cedo ( 6hs), eu esperava o dia
clarear (me sentia mais segura). Mas, ainda pela manhã sempre encontrava muitos
deles.
Pouco após a saída de Pamplona
passei por Cizur Menor. O local utilizado para ser uma Comenda da Ordem de S.
João de Malta também mantém um hospital de peregrinos - onde selei minha
credencial. Aqui já encontrei alguns ciclistas. Um grupo de quatro alemães e um
espanhol.
A partir de Cizur Menor, passei
por Zariquiegui e após avistar vários moinhos de vento, comecei a subir a ladeira.
Subida moderada!
Casal de coreanos que fez questão de uma foto minha ( e eu deles)- eu era a unica mulher de bike e sozinha que eles haviam conhecido.
No caminho sempre encontrava os
peregrinos, gente do mundo todo. Muitas vezes quando passava ouvia um "bueno
camino" ou "good way". Um casal de coreanos fez questão de fazer
uma foto minha. Eu era a única mulher de bike pedalando sozinha que eles
conheciam e diziam: "you are very brave". Cheia de reforço positivo
eu seguia pedalando.
Nessa etapa a minha expectativa
era chegar ao Alto do Perdão - um dos pontos mais conhecidos do Caminho de
Santiago. Está a pouco mais de 700 metros de altitude. O terreno nesse trajeto se
complica um pouco, pois parecia ser um terreno argiloso, por cima do qual foi
colocado cascalho. A subida de bicicleta passa a ter uma dificuldade ainda
maior.
O Alto do Perdão possui um
monumento aos peregrinos, feito em ferro - um conjunto de esculturas de Vicente
Galbete. Neste monumento observa-se a inscrição "Onde se cruza o caminho
do vento com o das estrelas". A vista do alto é bela!
Após o Alto do Perdão comecei a
descer. Uma descida bem escorregadia devido aos cascalhos soltos. A bicicleta
trepidou muito e como havia muitos peregrinos descendo, ter muita prudência foi
o mínimo que pude fazer.
Segui passando por vários
povoados sem pressa, às vezes parava e tentava me aproximar dos locais e
entender um pouco da cultura e do dia a dia deles. Passei por Uterga,
Muruzábal, Obanos.
Durante o trajeto passei por
várias plantações de uvas, pois a região de Navarra é uma das principais
regiões de vinicultura da Espanha.
A próxima cidade foi Puente La
Reina, outra tão esperada parada do Caminho de Santiago. A tradição diz que seu
nome provém da Ponte Românica sobre o rio Arga, mandada construir, não se sabe
bem ao certo, pela rainha Doña Mayor, esposa do rei Sancho El Mayor, ou então
pela rainha Doña Estefanía, esposa do rei Garcia de Nájera, com a intenção de
facilitar a travessia do rio para os peregrinos.Esta magnífica estrutura é
qualificada como um dos exemplares românicos mais belos de todo o trajeto. Com
110m de comprimento, 7 arcos e 5 pilares, nela antigamente se guardavam imagens
de santos de devoção popular.
A Igreja Paroquial de Santiago –
a principal da cidade – foi construída no séc. XII, porém quase que
completamente refeita no séc. XVI. Da época original românica, conserva-se
somente a porta. Infelizmente estava fechada.
Em Estella me hospedei no Albergue Oncineda, mas antes de me acomodar, fui até uma oficina para uma revisão na Bike – fui muito bem atendida. Com a bike em ordem, pude explorar a cidade com calma.
Visitei a Iglesia de San Pedro de
la Rúa - uma igreja de meados do século XIII, com uma pequena capela dedicada a
Santo André, padroeiro de Estella ; Iglesia de San Miguel ; a Basílica de Nuestra Señora del Puy e o
Palacio de los Reyes de Navarra, que foi declarado 'Monumento Nacional' em
1931, um museu e galeria de arte.
Depois de pedalar quase 52 km e
explorar a cidade, voltei para o albergue. Estava satisfeita e merecia um bom
descanso para me preparar para o dia seguinte.
Estella/ Ayegui / Irache/ Azqueta/ Villamayor/ Los Arcos / Sansol / Torres del Río / Viana / Logroño .
Total - 55,8Km
Logo depois de deixar Estella,
passei por Ayegui ; alguns quilômetros depois, encontrei um pequeno lugar
chamado Irache. Além de seu belo mosteiro, outra a tração muito visitada é a
Fonte do Vinho, que fornece vinho tinto e água para os peregrinos desde 1991.
Para ser sincera, eu não curti. Parece muito mais uma sacada de marketing do
que outra coisa. Em frente à fonte fica o Monastério de Santa Maria de La Real
de Irache.
No caminho literalmente não tem
como passar fome ou sede. Quando não tem um povoado, tem um bar
"móvel" !!!
Em Azqueta, fui à procura do
senhor Pablito (havia lido a respeito dele), que doa cajados de avelãs e é uma
figura ilustre do caminho. Mas não tive o prazer de conhecê-lo.
Saindo de Azqueta, enfrentei uma
subida forte até Villamayor; depois o caminho começa a ficar plano, logo chego
a Los Arcos, uma vila de origem romana, possivelmente, surgida a partir do
cruzamento de caminhos na fronteira entre Castela e Navarra.
Los Arcos
O destaque em Los Arcos é a magnífica
Igreja de Santa Maria, ricamente decorada: com os numerosos retábulos dourados
cheios de imagens, constitui uma das mais incríveis expressão do barroco Navarro,
de grande riqueza e magnificência. Maravilhosa!!!!
O dia continuava belo, o céu azul,
a temperatura agradável. Segui passando por Sansol e depois Torres del Rio,
chegando mais tarde a Viana – a última localidade de Navarra. Sancho VII
fundou-a na fronteira com Castela, com finalidades defensivas – evidentemente,
cercada por paredes.
Segui pedalando até o meu destino - Logroño.
Entrando na cidade, atravessei uma grande ponte de pedra sobre o rio Ebro. Ao longo da história, essa cidade e a ponte em si tiveram uma grande importância estratégica, por ser a única passagem sobre o rio Ebro por um longo tempo. O fato de que o Caminho de Santiago atravessa a cidade acrescentou muito para o seu desenvolvimento nos tempos medievais.
Logroño é a capital da região autônoma de La Rioja, a menor de todas as dezessete que compõem a Espanha.
A localização perfeita do Hostal Entresueños onde me hospedei permitiu que eu explorasse a cidade.
Mais um dia vencido!
A catedral de Santa María de la Redonda, belíssima! Foi mencionada pela primeira vez no século XII. Reconstruída no século XVI, as duas torres (Las Gemelas = as gêmeas) foram adicionadas no século XVIII. Ela abriga a pintura de Michelangelo Buonarotti, a Crucificação.
Etapa 5Logroño / Navarrete / Sotés / Ventosa / Nájera / Azofra / Cirueña / Santo Domingo de La Calçada / Grañón / Redecilla del Camino / Castildelgado / Viloria de Rioja
Total – 67,5km
Ao sair de Logroño, após 4 Km do
centro, passei pelo Parque La Grajera. Lindo!!!!
Após pedalar através de uma
sinuosa e estreita trilha em um bosque, encontrei uma tenda com uma enorme e
pesada mesa. Um homem de meia-idade, barbas longas, rosto sereno e calmo, mas
com um olhar expressivo e um sorriso amigo, me convidou a aproximar, oferecendo-me
biscoitos, frutas etc. Ante uma leve hesitação minha, foi logo dizendo que não devia
pagar nada. Era com amor que fazia aquilo, disse! Fiquei encantada. O nome
dele: Marcelino Lobatto, uma pessoa emblemática e muito conhecida. Desde 1971
percorre o Caminho.
Ele me disse que já havia
percorrido o caminho por várias vezes. Impressionada, perguntei quantas, e ele
me disse, com um brilho no olhar: "mais de 50 vezes!" Tirou uma
grande foto sua em que aparece travestido de autêntico peregrino medieval, com
uma pesada túnica e um enorme cajado encimado por uma cruz metálica, que é o
emblema da Ordem dos Cavaleiros Templários!
Ficaria o dia todo ouvindo suas
estórias. Logo outras pessoas foram se aproximando, então ele selou minha
credencial me presenteou com uma pedra com uma seta amarela e me desejou "Bueno
Camino".
Segui viagem com uma sensação boa, ainda pensando naquela pessoa que acabara de conhecer.
O primeiro povoado que avistei depois de Logroño foi Navarrete. Pouco antes de chegar à cidade, há ruínas de um hospital de peregrinos, que foi construído no final do séc. XII por Maria Ramirez. No topo da colina, ergue-se a Igreja de Assunção, magnífico edifício do século XVI.
Depois segui grande parte do caminho por entre vinhas, sem dificuldade. A região de La Rioja é uma das principais regiões de vinicultura do mundo. Nessa época do ano os vinhedos estavam carregados de cachos de uva, esperando o momento exato para serem colhidos. No trajeto foi possível comer uvas fresquinhas.
Além do vinho, a região busca o
reconhecimento internacional com os pimentões, lá chamados de “pimientos
riojanos” ou “pimientos najeranos".
Essa senhora do povoado me
disse que, “se vem gente a sua casa , você tem que ter um pote de pimentões". Eu provei e adorei!
Próximo a Cirueña o céu começou a ficar negro e certamente ia cair uma chuva daquelas. Apressei-me para tentar evitá-la. Mas não tive sucesso! Dez minutos antes que eu chegasse à Santo Domingo de La Calzada começou a chover forte e eu fiquei literalmente encharcada!
O nome da cidade também está associado a uma lenda peregrina do séc. XIV.Uma família peregrina alemã parou na aldeia a Caminho de Santiago, e a filha do estalajadeiro caiu de amor pelo jovem e belo rapaz, que não correspondeu às expectativas da moça. Ofendida e vingativa, para simular um furto, ela escondeu na bagagem do rapaz uma taça de prata. Ele foi preso e condenado à morte por enforcamento.
Enquanto seu corpo estava na
forca, o filho apareceu em sonho para seus pais e disse-lhe que ainda estava
vivo, sendo apoiado por Santo Domingo, pelos pés. No caminho de volta, a partir de Santiago, os
pais foram procurar o juiz da aldeia para contar a respeito do sonho.
O juiz, muito mais interessado em
festa e em um buffet de aves, não deu importância à história do casal. Depois
de muita insistência, o juiz replicou que só acreditaria no sonho caso aquelas
aves assadas voltassem à vida. Foi quando o galo e a galinha se recobriram de
penas e saíram correndo e cacarejando. Perplexo, o juiz não teve mais dúvida da
veracidade da história.
Com isso, na igreja de Santo
Domingo de La Calzada, um galo e uma galinha são tradicionalmente mantidos
vivos. Estão juntos em um galinheiro de alambrado estilo gótico próximo ao
altar. A cada vinte dias, as aves são trocadas. Ficam expostas somente no
período entre 25 de abril e 13 de outubro. Ao entrar na igreja, se você ouvir o
galo cantar, é um sinal que a sua peregrinação será bem sucedida. Daí o ditado
popular: "Santo Domingo de La Calzada, donde canto la gallina después de
asada".
Depois Castildelgado eu
finalmente cheguei a Viloria de Rioja, onde me hospedaria. Estava exausta!
Em Viloria de Rioja fiquei
hospedada no Mi Hotelito, cuja proprietária, Rosaria, foi muito atenciosa. Na
sua casa havia mais dois casais britânicos hospedados. Depois do jantar ficamos
horas conversando e tomando vinho. Foi muito agradável!
Etapa 6
Viloria de Rioja / Villamayor /
Belorado / Tosantos / Villambistia / Espinosa del Camino / Villafranca / La
pedraja/ San Juan de Ortega / Agés / Atapuerca / Olmos Atapuerca/ Villalval / Cardenuela / Orbaneja / Villafría
de Burgos / Burgos
Total -60km
Passei por Villamayor antes de
chegar à Belorado. As magníficas
igrejas de Santa Maria e São Pedro foram construídas nos séc. XVI e XVII, respectivamente.
Há um grande número de refúgios para peregrinos, o que denotam a importância
dessa vila.
Ninhos de cegonha na torre da Igreja de Belorado |
Interior da Igreja de Santa Maria em Belorado |
Espinoza del Camino e Villafranca
também ficaram para trás, até que cheguei a San Juan de Ortega, uma pequena
aldeia no sopé de Puerto de La Pedraja.
San Juan de Ortega é uma das
menores aldeias do Caminho, com seus não mais de 30 habitantes. Esta fantástica
edificação, que se ergue solitária no alto das montanhas, entre Belorado e
Burgos, é muito mais que uma igreja, é um conjunto complexo, formado por duas igrejas,
dois mosteiros, um Hospital de peregrinos e algumas residências. Hoje em dia, o
conjunto abriga o mais amplo albergue de todo o Caminho, com capacidade para
receber centenas de peregrinos. Parei para um lanche e encontrei o Will, um
ciclista britânico que no dia anterior havia me ajudado com a bike (um pequeno
problema na corrente).
Segui minha viagem deixando para
trás vários outros povoados, até passar por Villafría e chegar a Burgos.
Villafría e Burgos são cidades interligadas. Fui pedalando por uma ciclovia em
uma larga avenida durante um bom período até chegar ao centro. No caminho
encontrei um polonês, que vive em Budapeste e já havia pedalado 3.600 km. Seu destino:
Santuário de Fátima, em Portugal. A bicicleta dele chamou minha atenção: ele
praticamente levava uma casa junto. Laszlo Bata estava há três meses na
estrada. Incrível!!!!!
Laszlo Bata |
Cheguei a Burgos no fim da tarde.
Hospedei-me no Hostel Monjes Peregrino.
A cidade de Burgos é uma das
maiores da Espanha e eu reservei dois dias só para conhecê-la.
Um pouco de história:
Diego de Porcelos, Conde de
Castilla (873 - c.885), persuadiu pessoas para que fossem viver nas planícies
do norte. Ele fez um grande esforço para repovoar toda essa área e fundou
Burgos em 884.
Após a conquista de Toledo, em
1085, quando os cristãos derrotaram as tropas muçulmanas, a área começou a se
desenvolver espetacularmente. A maioria dos grandes monumentos e pontos
turísticos da cidade foram construídos nos dois séculos seguintes. A cidade é
protegida por muros, com quatro portões monumentais: o portão de Santa Maria,o
de San Juan,o de San Esteban e o de San
Martin.
Catedral
de Burgos
A Catedral de Burgos é uma linda
obra arquitetônica que combina vários estilos, porém o que predomina é o
gótico. Sua construção começou em 1221 e teve importantes modificações nos
séculos XV e XVI. Além do gótico, os estilos em seu interior são renascentista
e barroco.
O interior da catedral
Um relógio diferente -
Papamoscas, uma estátua articulada que abre a boca quando os sinos badalam a
cada hora. Esperei a hora cheia para vê-lo. É engraçado!
No interior da catedral existem
inúmeras capelas, todas dignas de uma visita.
O arquivo da Catedral é outro que
merece destaque, pois ali se encontram documentos de grande importância na
história da cidade. Enfim, todo esse conjunto é uma verdadeira obra de arte que
realmente vale a pena visitar.
À esquerda da fachada principal da Catedral, outra igreja – a de San Nicolas – chama a atenção. É uma igreja gótica construída no início do século XV, a partir de doações do próspero comerciante Burgos Gonzalo Lopez. O tesouro da Igreja é o alto retábulo monumental feito de pedra, algo raro na época. O design do altar mostra imagens de santos e apóstolos da Bíblia. Gonzalo Lopez, seu irmão, e suas esposas foram enterrados na igreja.
O arco, que lembra a fachada de um castelo gótico, foi a porta de entrada principal da cidade, sobretudo quando fazia parte das muralhas erguidas ali no século 14. Em sua fachada estão esculpidas imagens de personagens importantes da história de Burgos, como El Cid, o guerreiro mercenário que comandou a reconquista de Valência para os cristãos no século 11.
Também visitei o Castelo de
Burgos – do castelo sobrou somente a base. Ele foi construído pelo Conde Diego
de Porcelos, o fundador de Burgos. Atualmente, veem-se apenas algumas pedras
que constituíram a base do castelo, isso me decepcionou muito. Há um museu
interessante, que também pode ser visitado.
Do alto a vista da cidade com a Catedral é linda. Em minha opinião, foi o que mais valeu a pena, quando subi o morro.
Foram dois dias ótimos, pude
usufruir de tudo que a cidade tinha para me oferecer. Mas era hora de seguir
pedalando!
Etapa 7
Burgos / Villalbilla / Tardajos / Rebé de las Calzadas / Hornillos del Camino / San Bol / Hontanas / San Antón / Castrojéris / Itero del Castillo / Puente Fitero / Itero de la Vega / Boadilla del Camino / Frómista / Problación de Campos
Total - 77,3Km
Despedida de Burgos |
Saindo de Burgos passei por
Villalbilla, Tardajos e deixando essa cidade, segui o caminho a Rebé de las
Calzadas. Estrada muito boa, sol, temperatura agradável, sem vento, ou seja,
perfeito!!!
Quando cheguei a Rebé de las Calzadas, estava havendo uma festa em homenagem à Padroeira da cidade. Interessante que a festa começa de manhã com serenatas para acordar as pessoas. Um integrante do grupo carrega uma bolsa de couro cheia de "pena" bebida alcoólica típica. Essa bolsa é jogada para quem aparece na janela. A pessoa que apanha a bolsa, bebe do seu conteúdo e a devolve. E assim eles vão acordando a população para a festa em homenagem a padroeira.
Fiquei ali,tempo suficiente para entender a festa e conversar com os meninos que tentaram me convencer a beber a "pena".Tinha muitos quilômetros para pedalar, então recusei e segui em frente.
Hornillos del Camino, o próximo
destino, cidade com apenas uma rua, a Calle Real, foi uma parada importante na
rota medieval. Tem um leprosário, fundado em 1156 por Alfonso VII, e alguns
outros, entre os quais, provavelmente, o mais conhecido seja Malatería de San
Lazaro.
Onze quilômetros, depois cheguei
a Hontanas, uma vila hospitaleira. Seu nome é derivado de suas inúmeras fontes.
Visitei a Mesón de los Franceses, a Parroquia de La Inmaculada Concepción, do
século XIV.
Na saída de Hontanas, segui para
um lugar mágico e maravilhoso: as ruínas do antigo convento de San Antón do
século XIV. O caminho passa por baixo de seus arcos e depois entra na cidade,
Castrojeriz. Parei para admirar tamanha beleza.
Logo após cruzar o convento, já
entrei em Castrojéris.
Foi Alfonso VII que, após uma
série de batalhas, aproveitou a aldeia para construir o Castelo, em 1131 entorno
do qual cidade começou a tomar forma. Hospitais, hotéis e igrejas foram
construídos, e até hoje podem ser visitados.
Em Castrojeriz visitei a Iglesia
de Santo Domingo – um de seus mais belos detalhes é o portal gótico do século
XVI – e a Iglesia de San Juan – construída entre os séculos 13 e 16, com a
aparência de um belo castelo.
Após Castrojéris, pedalei por um
tempo sem dificuldades e cheguei a um trecho muito desgastante. Uma subida com
aumento de nível em aproximadamente 150 metros. No alto, um parador e uma vista
fantástica! A vista do que fica para trás nesses últimos quilômetros é de
arrepiar!
Em Frómista, antes de entrar no
centro, a primeira coisa com que se depara é a Ermida de Santiago, também
chamada de "Otero". Logo depois, encontro a igreja de San Martín -
pertencente ao mosteiro homônimo, construída em 1066, tendo sido fundada por
Dona Mayor de Castilla, viúva de Sancho III da Navarra.
Ermita de Santiago |
Igreja de San Martín |
O templo, que sucumbiu em um
incêndio no século XV, acabou sendo totalmente recuperado e é, sem dúvida, uma
das mais belas e mais importantes edificações de estilo românico europeu.
Meu destino hoje seria Frómista,
já havia pedalado 74 km , mais do que esperava por dia, mas não encontrei
hospedagem. Então segui para o próximo povoado - Problación de Campos.
E u respondi : Claro que não!!!! Só queria um lugar para dormir. Para minha surpresa ela me acomodou em um lugar fantástico e ainda me serviu uma bela paella( de cortesia).
Um Perfeito dia!!!!
Etapa 8
Problación de Campos / Revenga de Campos / Villarmentero de Campos / Villalcázar de Sirga / Carrión de Los Condes / Calzadilla de La Cueza / Ledigos / Terradillo de los Templarios / Moratinos / San Nicolás de Real Camino / Sahagún
Total -58,7km
No dia amanheceu coberta por uma neblina, mas Carmem me disse que não havia
previsão de chuva. Então segui em frente.
A neblina me acompanhou por uns vinte quilômetros, mas fui privilegiada porque esse é um trecho que os peregrinos denominam de "andadero" fica ao do lado da "carretera"; então segui pelo asfalto do lado deles. Apesar da neblina, sentia-me tranquila e animada.
Entrando em Carrión os peregrinos são recebidos nos edifícios da Ermida da Misericórdia e do Convento de Santa Clara, recentemente restaurado.
Das seis igrejas que ainda estão prestando serviços, a de Santa María del Camino e a de Santiago são as mais proeminentes.
Igreja de Santa Maria Del Camino |
No caminho entre Carrión e Calzadilla de La Cueza encontrei muitos peregrinos. Devagar a neblina foi se dissipando e nos presenteou com um lindo céu azul.
A próxima cidade foi Lédigos, localizada a partir de 54 km da capital. Doña Urraca, a Imperatriz de Leão e Castela, doou essa cidade para a Igreja de Compostela no século IX. Nessa aldeia, visitei a Paróquia do Apóstolo Santiago.
Segui pedalando com destino a Sahagún,um pouco antes de chegar passei pela Ermida da Virgen del Puente- uma construção do século XII,
recentemente restaurada.
Em Sahágun fiquei hospedada no
Albergue de Peregrinos Municipal Cluny, que funciona onde era a antiga abadia
da Ordem de Cluny.
Ruínas do Monastério San Facundo |
Igreja de San Lorenzo |
Igrejas de San Tirso |
A cidade detém numerosos exemplos de riqueza e desenvolvimento daquela época, como as igrejas de San Tirso (século XII) e San Lorenzo (século XIII), tanto de estilo românico-mudéjar, quanto de estilo neoclássico do Trinidad (do século XVI).
Etapa 9
Sahagún / Bercianos del Real Camino / El Burgo Ranero / Reliegos /
Mansilla de Las Mulas / Villamoros de Mansilla / Puente Villarente / Arcahueja
/ León
Total – 69,9 km
Deixei Sahagún atravessando uma
ponte de pedra chamada Puente del Canto ("ponte de canções ') sobre o rio
Cea, construída em 1085, por ordem de D. Alfonso. e logo teve iniciou uma
estrada apedregulhada, que seguiu reta e sempre à beira da rodovia.
Passei por Berciano del Real
Camino e depois por El Burgo del Ranero e, na sequência, Reliegos, uma pequena
vila com menos de 500 habitantes que vivem, grande maioria, da agricultura. A
igreja Paroquial é dedicada a São Cornélio e Cipriano.
Cheguei a Mandilla de Las Mulas
localizada às margens do Rio Esla. De origem romana, foi um importante centro
comercial da área. Entrei na cidade pela Porta del Castillo, que é a entrada do
Caminho Francês, e onde está localizado o
monumento ao peregrino.
Logo cheguei a Léon. Foi o dia mais tranquilo de todo o caminho - muito fácil fazer o percurso de quase 57 quilômetros que liga Sahágun à León. Não houve quase nenhum aumento de nível no percurso.
León é uma cidade que surgiu a
partir do acampamento romano da Legião VII Gemina. Até mesmo o "El Codex
Calixtinus" descreve León como uma "cidade cheia de todos os tipos de
bens".
Fiquei hospedada no Hostal Leon,
ao lado da praça. Perfeito!
Explorando a cidade....
Catedral de Leon,
uma obra-prima do estilo gótico
espanhol, projetada por arquitetos franceses no século XIII,é um belo exemplo
de arquitetura gótica clássica. Suas janelas longas e gloriosas são
deslumbrantes à luz do sol.
Foi em Leon que conheci Òscar
Jiménez, um jovem espanhol com uma historia de vida incrível. Em 2012 foi
vítima de um erro médico que o colocou em uma cadeira de roda. Com um amigo,
estavam percorrendo de bike e hanbike o Caminho de Santiago. Ele é autor do
livro "Impossible". Foi fantástico conversar com ele.
Visitei a Real Colegiata de San
Isidoro, um dos monumentos românicos mais destacados de toda a Espanha. Foi
declarado Monumento Histórico em 1910.
O mosteiro de São Marcos, cuja
construção iniciou-se em 1513, foi sede da Ordem, e seus cavaleiros tinham a
missão de cuidar do Caminho de Santiago e defender os viajantes.
Hoje é um belíssimo hotel. Um
museu vivo de salões senhoriais, com um Claustro e uma Sala Capitular
espetaculares, amplos e elegantes quartos, biblioteca e um magnífico
restaurante que oferece uma cuidada gastronomia tradicional.
Etapa 10
León / La Virgem del Camino / Valverde de La virgem / San Minguel del
Camino / Villadangos del Páramo / San Martin del camino / Hospital de Órbigo /
Villares de Órbigo / Santibañes de
Valdeiglesias / San Justo de La Vega / Astorga
Total – 52,8
De Leon segui para La Virgem del Camino, depois Valverde, passando por San Miguel del Camino e chegando a Villadangos del Páramos,um vilarejo de origem romana e foi um lugar onde aconteceram vários confrontos entre o Rei Afonso e Doña Urraca.
Antes de chegar a Hospital de
Órbigo, passei por San Martin del Camino.
Villares de Órbigo é uma pequena
cidade com uma população de 2.400 pessoas e sua ponte, a Puente de Órbigo , de
origem romana, é um dos mais antigos e famosos pontos da rota Jacobina. Ela
teve diversas modificações e ampliações ao longo dos séculos.
Na saída de Villares de Órbigo existem duas opções para seguir em direção a Astorga, e tal bifurcação acontece logo no final da zona urbana. Não vi nenhum peregrino, então segui à direita. Por alguns momentos pensei estar perdida, pois o caminho, além de difícil, com muitas pedras soltas, estava isolado. Confesso que comecei a ficar preocupada, mesmo vendo as setas amarelas, setas formadas por pedras, etc. Depois de pedalar muito tempo sozinha , encontrei um peregrino que me disse que a maioria dos pessoas pegam a outra opção - à esquerda - e ultrapassam a rodovia N-120; e depois prosseguem por um "andadero" lateral até o Cruzeiro de Santo Turíbio, onde as duas variantes voltam a se unir. Fiquei mais tranquila e segui passando por Santibañes de Valdeiglesias e San Justo de La Vega.
Logo depois cheguei ao famoso
Cruzeiro de Santo Turíbio. Já dava para ver Astorga de longe. Mas antes ainda
passei por San Justo de La Vega.
Astorga constitui-se, sem dúvida, um dos lugares mais importantes da rota. É o ponto de encontro de dois caminhos de peregrinação: o Caminho Francês e a Vía de la Plata. De acordo com os primeiros escritos, Astorga costumava ter 25 refúgios na Idade Média.
Aqui fiquei hospedada no Hotel
Astorga, localizado em frente ao Museu dos Peregrinos.
Quando cheguei, encontrei um
casal de poloneses que estava percorrendo o caminho com seus filhos. As
crianças pareciam felizes por acompanharem os pais nesta jornada.
Um dos pontos turísticos mais
importantes em Astorga é o Palácio Episcopal desenhado por Gaudí, que hoje
abriga o Museo de los Caminos. A construção desse palácio começou em 1889 e,
por falta de pagamento a Gaudi, não foi finalizada. O edifício somente foi concluído, em 1915,
pelo arquiteto Ricardo Garcia Guereta.
Visitei também a Catedral de Astorga, cuja construção foi iniciada em 1471 e dedicada a Virgem Maria, levou três anos para ser concluída. Isso fez a catedral de hoje refletir diversos estilos, como o gótico,o renascentista e o barroco. Santa Martha é a santa padroeira da cidade.
Etapa 11
Astorga / Murias de Rechivaldo /
Santa Catalina de Somoza / El Ganso / Rabanal del Camino / Foncebadón /
Manjarín / El Acebo / Riego de Ambrós / Molinaseca / Campo / Ponferrada
Total – 54,7
Sobre um montão de pedras se
levanta uma pequena Cruz de Ferro, presa no alto de um tronco de madeira de uns
5 metros de altura. Foram os romanos que construíram um altar aqui para
Mercúrio, o deus dos viajantes. Só mais tarde, um eremita chamado Gaucelmo
colocou uma cruz de ferro no topo do poste de madeira para trazê-lo mais perto
de tradições cristãs.
Segui minha jornada deixando para
trás outra bela cidade. Depois cheguei a
Pereje e Trabadelo - um pequeno povoado do vale Valcarce, pelo qual passei
rapidamente. Nesse trecho o caminho é feito pela Autovia Nacional, por um
"andadero" lateral, paralelo à carretera, mas separado desta por uma
mureta, que dá segurança e proteção ao peregrino. O ciclista segue pelo
asfalto.
Triacastela tem origem latina, significa "três castelos", tendo a cidade crescido ao redor de um mosteiro fortificado, dedicado a São Pedro e São Paulo, construído no século IX, nas encostas do monte Seiro, pelo conde Gatón, de El Bierzo. No entanto, hoje não existe mais nenhuma dessas construções antigas.
Saí de Astorga com um nascer do
sol maravilhoso. Deixando a cidade, parei em uma pequena capela para selar
minha credencial e segui em frente. Passei por Murias de Rechivaldo e Santa
Catalina de Somoza. Essa última já indica o começo do Monte Irago.
Passei por Murias de Rechivaldo e
Santa Catalina de Somoza. Essa última já indica o começo do Monte Irago.
Após passar rapidamente por El
Ganso, cheguei a Rabanal del Camino, que está localizada no sopé do Monte
Irago.
Finalmente, depois de seis
quilômetros em forte ascensão, cheguei a Foncebadón, que já foi um local
místico e temido.
Este povoado, no passado
abandonado, ano após ano ressurge das cinzas, graças ao empresário Enrique
Gaia, que se estabeleceu na localidade, montando um restaurante onde oferece
sabores gastronômicos medievais.
Após dois quilômetros de Foncebadón, cheguei à Cruz de Ferro (Iron cruz), um dos monumentos mais simples, porém um dos mais antigos e emblemáticos do Caminho.
James,o americano que abracei forte, como se tivesse abraçando toda a minha família |
De acordo com as tradições, os
peregrinos trazem pedras para deixá-las aqui perto da cruz e fazer seus desejos
ou se livrar de uma grande carga simbólica. O lugar, sem dúvida, traz à tona
sentimentos profundos. A cruz e o lugar não têm absolutamente nada de mais. É
simplesmente uma cruz sobre um poste de madeira e uma casinha de pedra. Mas o
que significa passar por ali que é importante. Todos aqueles que se envolvem
com o caminho espiritualmente e religiosamente acabam entendendo o significado.
Pra mim foi momento especial, a emoção foi tão intensa que caí no choro. Um
choro compulsivo. Abracei forte a pessoa que estava ao meu lado - James, um
americano do Kansas -, que não entendeu nada no início. Mas abraçá-lo foi como
estivesse abraçando todos que amo: meu querido e amado companheiro Zé Marques,
meus filhos, minha família, a família Marques e todos os meus amigos.
o peregrino deposita a
"pedra" que veio carregando consigo desde sua terra distante, como
símbolo de suas culpas, suas dores e amarguras. |
O dia estava lindo, a magia do lugar era inexplicável, então fiquei um bom tempo ali - lendo o máximo de mensagem escritas nas pedras. Foi emocionante.
Seguindo viagem, cheguei a
Manjarín. Bem pertinho, é um lugar muito especial. O único habitante permanente
deste lugar é Tomás, o hospitaleiro, e como ele diz: "Um dos últimos
Cavaleiros Templários". Ele serve os peregrinos durante todo o ano,
alimentando-os e curando-os e dando-lhes lugar para ficar a noite. Conversei
com Tomás, e logo chegaram os amigos James e Tomas - aquele que eu havia
abraçado. Lembrei-me de fazer uma foto com eles.
James e seu amigo Tomas |
Depois comecei a descer as
trilhas pelas montanhas. A descida foi maravilhosa e a paisagem magnífica. Logo encontrei um bar "móvel". Parei ao lado de algumas arvores frutíferas. Ainda estava extasiada. Tomei uma cerveja para comemorar!
Passei por Riego de Ambrós que é um pequeno povoado cercado por encostas pitorescas. Um de seus tesouros é a Ermida de San Sebastián e San Fabian.
E segui para Molinaseca. Uma
cidade que sempre foi importante na história. Antigamente, ainda na época
romana, serviu como um posto de controle no caminho para as minas de ouro.
Diz-se que a imperatriz Dona
Urraca, que teve papel muito importante na história do século nono, também
viveu aqui.
Esta cidade é realmente uma
graça. Uma de suas atrações é a Igreja de San Nicolás.
De Molinaseca, fui para
Ponferrada meu destino final desta etapa.
Em Ponferrada fiquei hospedada no
Hotel Aroi Bierzo Plaza.
O nome Ponferrada foi dado à
cidade depois de uma ponte de ferro (pons ferrata em latim) ter sido construída
sobre o rio Sil em 1082, por encomenda do pelo bispo de Astorga. Isto foi
possível em um período tão remoto, devido ao fato de ser a região rica em
vários minerais, incluindo ferro e ouro. (Ela tinha sido centro de mineração,
mesmo nos dias do Império Romano. Algumas das minas romanas ainda são
visíveis.)
Explorando a cidade, visitei o
Castillo de los Templarios que, construído no século XIII, pertenceu à Ordem
dos Cavaleiros Templários. A principal tarefa da ordem era proteger os
peregrinos que passavam pela área de El Bierzo.
Castillo de los Templarios |
A Torre do Relógio, um dos
edifícios mais emblemáticos da cidade, encabeça a antiga porta da cidade,
através da qual se entra na Plaza del Ayuntamiento.
Torre do Relógio |
Basílica de la Encina - a Virgen de la Encina é a padroeira da
região de El Bierzo. Originalmente, a basílica foi construída no final do
século 12, mas desde então tem sofrido várias alterações.
Basílica de la Encina |
Etapa 12
Ponferrada / Columbrianos /
Fuentes Nuevas / Camponaraya / Cacabelos / Pieros / Villafranca Del Bierzo /
Pereje / Trabadelo / La Portela de Valcarse / Ambasmestas / Vega de Valcarse /
Ruitelán / Las Herrerías / La Faba / Laguna de Castilla / O Cebreiro / Liñares
Total-64,2km
Deixei Ponferrada logo pela
manhã, após selar minha credencial. Atravessei quase sem perceber dois
povoados, praticamente juntos: Columbrianos e Fuentes Nuevas.
Segui para a aldeia de
Camponaraya e vistei a Iglesia de San Juan Magaz de Abajo.
Logo depois cheguei à Cacabelos,
localizada no centro de Bierzo. Esta região é amplamente conhecida pela
qualidade de seu vinho branco.
Fui pedalando em meio a uma
grande área de cultivo de uvas. No caminho encontrei o Senhor Javier, que colhe
e produz o seu próprio vinho.
Passei por Pieros e rapidamente
já estava em Villafranca del Bierzo. Uma subida não muito desgastante e depois
uma descida agradável vai dando entrada à cidade.
Villafranca del Bierzo é a última
localidade importante das terras leonesas. Além de sua bela paisagem, a cidade
tem diversas atrações com que se encantar. Um delas é a igreja de Santiago com
a "Porta do Perdão”. Diz-se que, se alguém estiver muito fraco ou doente
para continuar sua peregrinação, caminhando por estas portas terá a indulgência
semelhante aos que andam todo o Caminho.
La Portela de Valcarse e
Ambasmestas foram os próximos destinos, seguidos por Vega de Valcarse, o maior assentamento no vale do rio Valcarce.
Prosseguindo, mais acima, por um
túnel, terminei de percorrer a Autovia Nacional e, ainda por asfalto, passei
por Rutelán e, logo em seguida, por Las Herrerias, onde planejava pernoitar,
antes de seguir para o tão temido Cebreiro. Mas quando cheguei, eram 13h e o
pequeno povoado de 80 habitantes não oferecia muito. Resolvi seguir em frente e
pernoitar no próximo povoado. Foi um grande erro!!!
Saí pela esquerda e fui fazer de bike o trecho que os peregrinos fazem a pé rumo ao Cebreiro. O terreno é cheio de pedras e acaba sendo impraticável ficar montado na bike. Resolvi descer e fazer um trecho empurrando-a.Sebastian- o anjo do dia |
Depois de
uma subida íngreme, cheguei a La Faba, uma pequena aldeia encantadora, onde as
maioria dos habitantes está envolvida com a indústria relacionada a criação de
gado. Não havia alojamento, estava exausta, mas não tinha opção: teria que continuar
até Laguna onde iniciava o pior trecho até o Cebreiro. Era a minha última
esperança. Mas infelizmente não havia vaga no albergue. Quase implorei para
ficar, mas o proprietário não teve o que fazer. Segui e percebi o meu grande
erro. Estava exausta, empurrando a bicicleta, até que um garoto alemão -
Sebastian -, percebendo o meu cansaço, se ofereceu para levar minha bike. Foi o
anjo do dia. Não teria conseguido chegar ao Cebreiro sem a ajuda dele.
Para se ter uma ideia, esse
trecho é tão difícil que vi cavalos levando os peregrinos. Soube depois que em
Herreiras esse serviço é oferecido aos peregrinos para levá-los até Cebreiro.
Cheguei ao Cebreiro por volta de
18h. Estava muito preocupada com a hospedagem, comecei a entrar em todos os
albergues e a única coisa que ouvia era "não tem vaga". Estava tão
exausta que comecei a entrar em pânico: não tinha forças para pedalar depois
daquela subida difícil. Mas não teve jeito, não tinha como pernoitar ali e,
como já era tarde, nem curti o lugar: entrei rapidamente na Igreja de Santa
Maria, acendi uma vela, selei minha credencial e segui.
Em todos os lugares em que
perguntei por hospedagem, as pessoas me diziam que o próximo lugar onde,
talvez, encontrasse vaga, seria Triacastela, 20 km para frente. Resignada
segui... Mas meus anjos estavam comigo e em Linares, 5km depois encontrei, um
pequeno hotel - Casa de Jaime. Lá reuni-me a quatro francesas
muito simpáticas, jantamos juntas e
tomei um vinho. Não conseguia acreditar! No fim deu tudo certo!!!!
Etapa 13
Liñares / Hospital da Condesa /
Alto do Poio / Fonfría / Viduedo / Fillobal / Triacastela / San Cristovo do
Real / Renche / San Martiño do Real / Samos / Aguiada / San Mamede do Camino /
Sarria / Vilei / Barbadelo / Rente / Mercado da Serra / Peruscallo / Cortiñas /
Brea / Morgade / Ferreiros / Mercadoiro / Moutras / Parrocha / Vilachá /
Portomarín
Total -65,1km
Um amanhecer de encher os olhos e
lavar a alma!!! já tinha esquecido todos os peregues do dia anterior. Renovada
e animada, segui pedalando.
Depois de muito subir novamente
cheguei ao Alto do Poio. O ponto mais alto do Caminho Francês, 1335 metros após o Roncesvalles. No alto, uma
homenagem aos peregrinos - uma grande escultura de um peregrino avançando
contra o vento, obra do escultor galego José Maria Acuña.
Segui viagem e passei por Fonfría
e Viduedo. Nesta altura da etapa, só descí -
uma parte linda do caminho , com visual maravilhoso. Viduedo já estava
perto de Triacastela.
No povoado, existe uma importante bifurcação do Caminho, e eu tinha que decidir se ia pelas trilhas que passam pelo monastério de Samos, ou se seguia pelo roteiro que passa por San Xil, desembocando ambos na cidade de Sarria. Vi uns ciclistas espanhóis seguindo por San Xil e então resolvi acompanhá-los.
No caminho encontrei a "Fuente dos Lameiros", uma fonte cristalina, situada num local estilizado; parei para me refrescar e hidratar, antes de prosseguir em frente.
E logo passei por San Xil,
minúsculo pueblo, que contém algumas casas disseminadas, e nada tem a oferecer.
Prossegui ainda subindo até
atingir, finalmente, o Alto de Riocabo, situado a 900 m de altura, o ponto de
maior altimetria dessa etapa.
Dali, eu tinha uma visão ampla de
inúmeros bosques e serras, tudo impecavelmente verde, em diversas tonalidades. Na
sequência, continuei descendo, mas sempre entre matas nativas.
Cheguei a Sarria, seguindo por
sua avenida principal. Fundada pelo último rei de Leão, Afonso IX, que morreu
ali em 1230 na sua peregrinação a Santiago. É a maior cidade da Galiza no
Caminho Francês, exceto Santiago de Compostela. Muitos começam o caminho em
Sarria. Como para se obter a compostela, basta caminhar 100 km , é uma boa
opção para aqueles que não querem ou não podem fazer mais do que isso.
Esse fato de que a compostela é
concedida para quem caminha pelo menos os últimos 100 quilômetros, torna a
cidade um ponto de partida bastante popular. Na verdade, mais de um terço de
todos os peregrinos a pé no Caminho Francês iniciam sua peregrinação ali. Muito
diferente de Saint-Jean-Pied-de-Port, onde somente 8% começam sua peregrinação.
Segui passando por Vilei e depois
Barbadelo. Barbadelo era originalmente parte de um mosteiro, compartilhada por
monges e freiras. O prédio não existe mais, mas, em torno de 1009 a igreja foi
construída como parte do mosteiro. Esta igreja, dedicada a Santiago, ainda pode
ser visitada.
As próximas cidades foram: Rente,
Mercado da Serra, Peruscallos, Cortiñas, Brea, Morgade e Ferreiros.
Até
chegar a Portomarín, meu destino final
para essa etapa. Fiquei hospedada no Hostal Meson do Loyo.
Etapa 14
Portomarín / Gonzar / Castromaior
/ Hospital da Cruz / Ventas de Narón / Ligonde / Eireche / Lestedo / Palas de
rei / Carballal / San Julián del Camino / Ponte Campaña / Casanova / Leboreiro
/ Furelos / Melide / Boente / Castañeda / Ribadiso de Abajo / Arzúa
Total -58,8km
Saí de Portamarín com a cidade
coberta por uma forte neblina. Estava começando minha 14ª etapa, ainda não
acreditando que faltava pouco para finalizar minha jornada.
Passei por Gonzar e Castromaior ,
Hospital da Cruz, e em seguida, Ventas
de Narón. Esse é o lugar onde, logo após o túmulo de Santiago ter sido
descoberto em 820, as tropas cristãs derrotaram o emir de Córdoba.
Passei por Ligonde cheguei a
Eireche,nome galego que significa Igreja.
Segui para Palas de Rei (do latim
Pallatium Regis, "palácio do rei”) uma pequena cidade marcada como o fim
da penúltima etapa no Codex Calixtinus. Tem como atrações a Igreja de San Tirso
do século XII e o Castelo de Pambre, construído em 1375. Este último fica mais
afastado, então desisti de visitá-lo. Diz-se que a famosa Rainha do século 9,
Doña Urraca, também foi uma moradora do local.
Fui deixando para trás Ponte
Campaña,Casanova, Campanilla. Até chegar a
Leboreiro - o primeiro assentamento da província La Coruña.
Visitei a pequena igreja de Santa Maria e segui
pedalando
A pequena aldeia de Furelo
situada no vale do Rio de mesmo nome e sua atração principal é a ponte medieval
com quatro arcos.
Em Melide há a união de dois
caminhos: O Francês com o Primitivo. A história de Melide sempre foi ligada a
Santiago de Compostela e à peregrinação. Na verdade, esta é uma das razões
pelas quais a cidade existe.
Em 1320, o Arcebispo de Santiago
concedeu vários privilégios à cidade. Entre outros, ela poderia construir um
castelo, fortalecer a área de paredes e cobrar impostos de carga.
Visitei a Iglesia de San Antonio,
a Puerta Románica de San Roque e a Iglesia de Santa María y San Pedro.
Em Arzua novamente dois caminhos
se encontram: O Caminho del Norte e o Caminho Francês.
Fiz reserva em um hotel rural (Casa Lucas) afastado 9 km. Havia lido a respeito e me encantei com o lugar. O Sr. Lucas,
proprietário, foi me buscar em Arzua; havia combinado com ele um encontro na
oficina de turismo. Chegar até sua propriedade de bike não era indicado.
O hotel superou minhas
expectativas. Uma linda casa de pedra, construída no séc. XVII.
A casa pertence à família a cinco
gerações. Sr. Lucas e a família me receberam com muito carinho. O lugar é cheio
de charme.
Etapa 15
Arzúa / A Peroxa / Calzada / Boavista
/ Salceda / O Xen / Ras / A brea / O Emplame / Santa Irene / A Rúa / O Pedrouso
/ Amenal / San Paio / A Lavacolla / Villamaior / San Marcos / Monte Del Gozo /
Santiago de Compostela
Total -41,0km
Acordei emocionada, ainda não
acreditando que havia chegado até aqui. Meu coração batia pelo sentimento de
conquista. Tudo isso em virtude da realização de um projeto. Finalizar o
caminho era concluir esse projeto idealizado que agora ia se concretizando. A
expectativa e a euforia transformaram aquelas primeiras horas do dia 29 de
setembro de 2015. Um dia muito especial. Despedi-me do Sr. Lucas e família e
segui feliz!!!!
Alguns quilômetros depois de
deixar Arzua, encontrei no caminho uma exposição com frases filosóficas
colocadas com muito capricho na parede de uma velha casa. Não havia o nome de
quem deixou, mas com certeza deve ser alguém muito especial.
Segui deixando para trás Peroxa,
Calzada, Boa vista, Salceda, O Xen, O rás, A Brea, O Emplame, Santa seguindo a
Compostela.
No caminho um bar curioso!!!! Como
as pessoas estão chegando a Santiago elas deixam ali muito do que usaram
durante o percurso: camisetas, bonés, ect. Elas escrevem mensagens, nomes e
expressam ali seus sentimentos. Lindo de ver! Aqui experimentei uma cerveja
artesanal de nome Peregrina.
Antes de chegar a Santiago de
Compostela, fiz uma parada no Monte del Gozo, uma colina onde os peregrinos dos
velhos tempos viram as torres da catedral de Santiago pela primeira vez. Isso
ainda hoje é possível estando no monumento aos peregrinos.
O monumento é lindo e tem uma
atmosfera especial de alegria e gratidão. Vi muitos peregrinos nos quilômetros
finais. Cada um com sua história, cada um com seu sentimento de dever cumprido
e cada um com a emoção que certamente preenchia o coração de todos. Todo o esforço
e todo comprometimento estavam prestes a se transformar em conquista. Para mim
que cheguei ali sozinha depois de várias etapas e muitos quilômetros pedalados,
juntando a sensação de que estava muito próxima de Santiago, foi uma emoção
contagiante.
Monte del Gozo |
Quando entrei em Santiago de
Compostela e cheguei ao centro histórico e na praça da catedral, parei. Fiquei
admirando a catedral, que ainda passava por reformas, e pensando em tudo que
tinha vivido naqueles dias anteriores. Pensava na minha família que me apoiou
1000% e já dedicava a ela a minha conquista.
Depois de um tempo na praça, fui até a Oficina dos Peregrinos, onde pegaria minha Compostela, o documento emitido pela ordem que simboliza a conclusão da peregrinação pelo Caminho de Santiago. A fila já estava enorme. Entrei nela e fiquei aguardando. Depois de quase uma hora, finalmente chegou a minha vez. Saudaram-me, perguntaram meu nome, pegaram minha credencial (neste momento já estava comigo) e emitiram a tão esperada compostela. Estava feliz! Muito feliz!
Da oficina dos peregrinos fui
direto para o Hotel Gastronômico San Miguel, onde ficaria hospedada por dois
dias. Queria um banho e deixar minha bagagem.
Voltei para a Praça Obradoiro e
com tempo disponível fiz o que mais gosto - sentei no chão e fiquei horas
observando as pessoas que finalizam ali suas jornadas. Gente do mundo inteiro,
com muitas estórias para contar.
Depois fui a catedral assistir a
missa dos peregrinos.
Não há palavras para descrever a
beleza da Catedral. É pura emoção, simplesmente fantástica.
A catedral fica completamente
tomada por pessoas que estão a passeio pela cidade de Santiago e de peregrinos
que terminavam a peregrinação. É difícil encontrar espaço para assistir à
missa. Foi Lindo!
Na Idade Média esta bela cidade
era o terceiro mais importante local de peregrinação dos cristões,depois de
Jerusalém e de Roma. Em 813,o suposto corpo do apóstolo São Tiago teria sido
encontrado aqui, fato que atraiu peregrinos de todas as partes do mundo.
Do lado da Praça fica o Hostal de
los Reyes Católicos, construído pelos monarcas espanhóis para abrigar
peregrinos, hoje é um hotel sofisticado com acesso apenas a quem esta
hospedada. Mas eu conversei com a recepcionista e ela permitiu minha entrada. O
lugar é lindo!
Dois dias na cidade foi o
suficiente para explora-la. Eu ainda tinha tempo disponível e sabia que o
Caminho Frances não terminava em Santiago e sim em Finesterra. Decidi então
continuar a viagem.
A região esta situada nos confins
do velho continente em um dos pontos extremos da Europa é considerada como uma
terra mágica, cheia de lendas e tradições.
É uma tradição peregrina molhar
os pés no oceano, queimar ou deixar algo que você carregou consigo o tempo todo
durante a peregrinação, uma forma de celebrar o início de uma nova vida.
Descendo na cruz podemos observei
várias marcas de roupas queimadas. Este ritual eu não fiz. Mas molhei meus pés,
e joguei no mar a concha Vieira que me acompanhou por toda a viagem. Dizem que após concluir o Caminho e chegar a
Finesterre devemos joga-la no mar para que assim possamos disponibilizar o
conhecimento adquirido durante o trajeto. E eu conheci muito, fiz e faço
questão que toda a proteção e conhecimento que tive no meu caminho estejam
disponíveis. Minha concha foi para o mar da Galiza.
Vi o por do sol, no dia seguinte
levantei muito cedo para ver o nascer do sol. Assim minha viagem ficou
completa. Foi incrível!!!!
"Felicidade só é real quando
compartilhada” (Christopher McCandless).
Nada mais verdadeiro.
Muito bacana seu relato. Admiro sua determinação. Aguardando novas aventuras 😉.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue legal que gostou Fatinha. Espero encontrar você na Via Claudia.Bjs
ExcluirEstou programando e se tudo der certo nos veremos lá sim Vera. 😆😆😙
ExcluirRever o Caminho Francês pelas letras e imagens da Vera foi mais uma emoção. Voltarei!
ResponderExcluirobrigado prof. Arnaldo. Espero revê-lo
ExcluirMuito legal, só aumentou minha vontade de fazer o caminho!
ResponderExcluirE agora com tendência a fazê-lo de bicicleta!
Parabéns!
Oi Jorge, que bom que aumentou sua vontade de sair pedalando pelo Caminho. Foi magico e foi incrivel.Obrigado.
ExcluirParabéns! Foi ótimo relembrar o "Camino" através de suas belas fotos. Ainda voltaremos. Paulo/Laura Belon.
ResponderExcluirObrigado Paulo/Laura. espero que voltem . O caminho é magico! É incrível como quem faz uma vez quer voltar.Abs
ExcluirPercebi que no inicio a sua mochila estava amarrada atrás do selim, e no final você estava usando as bolsas laterais, porque mudou? No ano passado fiz o Caminho a pé. Este ano estou pensando em fazê-lo de bicicleta com a minha filha. Parabéns pelo relato.
ResponderExcluirOi Peter. Como vai? Teve três trechos que optei em enviar meus alforges por uma van que leva sua bagagem ate para o trecho seguinte. Um deles foi o primeiro - os Pirineus-,um trecho que muito difícil. Facilitou muito enviar os alforges pela van ate Roscenvalles. Descobri que poderia fazer la em Saint Jean de Port.Foi uma ótima opção, porque eu decidi seguir o tempo todo pela trilhas dos peregrinos.Alguns ciclistas nos trechos défices es vão pela carreteira, como estava sozinha eu me sentia muito segura com os peregrinos.
ResponderExcluirTenho pra mim que um dia farei o caminho e, certamente, de bicicleta. Parabéns pelo relato.
ResponderExcluirObrigado Fabio. Vou torcer para que você faça um dia esse caminho.Abs
ExcluirOi Vera, maravilhoso seu Caminho! Fotos belíssimas, com informações detalhadas, que me fizeram voltar no tempo, vez que transitei pelo roteiro Francês em 2001, 2004 e 2014. E, coincidentemente, agora em maio, fui a pé até Finisterra.
ResponderExcluirEfetivamente, seu relato é detalhado e contém dados preciosos. Parabéns pelo seu excelente trabalho, adorei o conteúdo. Abraço forte e Bons Caminhos, ou melhor, Boas Pedaladas! Oswaldo Buzzo (www.oswaldobuzzo.com.br)
Muito obrigado Oswaldo ! Você é uma pessoa que admiro muito, eu li do que você escreveu ante de ir viajar. Sigo seus passos. Ter um feedback seu foi um presente. Abraços
ExcluirMuito obrigado Oswaldo ! Você é uma pessoa que admiro muito, eu li do que você escreveu ante de ir viajar. Sigo seus passos. Ter um feedback seu foi um presente. Abraços
ExcluirOlá Vera, Que fotos maravilhosas. Graças a este teu blog já iniciei os preparativos para fazer este caminho tal como o fizeste. Seria possível dares-me uma ideia de quanto custou este teu caminho. Obrigado. Beijinhos.
ResponderExcluirObrigada. desculpe pela demora na resposta. Você pode calcular um custo de 12 a 30 Euros por dia. Muitas vezes e possível albergues gratuitos. E preço varia de 5 a 20 Euros a estadia. O menu do peregrino custa 12 Euros,mas se você fizer supermercado gastara menos ainda. Vai e sera maravilhoso!!!!
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ResponderExcluirVera... Muito obrigado por todo o texto, repleto de emoção e conhecimento, que me incentivam cada vez mais a seguir nessa peregrinação, por coincidência, prevista exatamente no mesmo período em que esteve lá e pelo mesmo caminho...
ResponderExcluirComo você espero ter a coragem de seguir o caminho... Forte abraço
Obrigado!!!Fico feliz que de alguma maneira incentivei. VÁ tranquilo, você fará uma viagem que ficara para sempre na memoria . E com certeza votará com muita estórias para contar e isso não tem preço.Boa viagem
ExcluirQue beleza!! Muito obrigada! Lindas fotos!
ResponderExcluirObrigado!!!
ExcluirAmei..Vera!! Simplesmente...Parabéns, por cada detalhe!!
ResponderExcluirMe deu mais força e coragem!!
Estou me preparando para ir final de abril 2017,sozinha também...estava em dúvida, caminhando ou pedalando...
Depois de seu relato lindo, acredito que pedalando! Muito obrigada, abraços
Fantástico, viajei nas fotos muito bem tiradas e relatos espetaculares. Aula de cultura.
ResponderExcluirMuito obrigado! Minha intenção é mesmo compartilhar o que aprendo pelo caminhos. Abs
ResponderExcluirOi Vera, suas fotos, seus relatos e sua experiência era tudo que eu precisava para iniciar o planejamento da minha aventura pelo CAMINO no próximo ano. Parabéns e muito obrigado por compartilhar. Um abraço, Paulo C.
ResponderExcluirAchei lindíssimo seu relato. Estou me programando para fazer este caminho em setembro de 2017. Vc tem algum arrependimento de ter feito o caminho de bicicleta? Tenho somente 20 dias disponíveis.
ResponderExcluirVera, eu e meu marido finalizamos o caminho hj e suas dicas foram muito úteis. Obrigada
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