quarta-feira, 29 de junho de 2016

ESTRADA REAL DE BIKE - Ouro Preto a Diamantina

Estrada Real...Uma estrada, nosso destino

Tudo começou quando conheci o blog –claudiajakefilipe.blogspot.com.br da Claudia Jak. Gostei tanto que passei a seguia-la no Facebook, onde descobri que ela faria a Estrada Real de bike. (dezembro 2014)
A história continua quando de forma repentina e sem muito pensar, perguntei se havia alguma possibilidade de nos candidatarmos ( eu e meu marido) a aventura de percorrer com ela o “Caminho dos Diamantes” da Estrada Real.
A resposta da Jack foi: BORA LÁ !!!


Resposta surpreendente, pois ambos éramos absolutamente desconhecidos da Claudia Jack.

E Foi assim que fomos pedalar na Estrada Real. Com um grupo maravilhoso que simplesmente nos aceitaram sem perguntas. Uma viagem fantástica!!!!!




Em meados do século XVIII já eram muitos os caminhos que conduziam às minas de Minas Gerais, 

mas também muitos eram os seus descaminhos. Para evitar estes descaminhos a Coroa Portuguesa determinou que o ouro e os diamantes deixassem as terras mineiras apenas por trilhas outorgadas pela realeza, que receberam o nome de Estrada Real.

Inicialmente, o caminho ligava somente a cidade de Paraty às províncias auríferas do interior de Minas, a antiga Villa Rica, hoje Ouro Preto (Caminho Velho). No entanto, a Coroa Portuguesa percebeu a necessidade de um trajeto mais seguro e rápido ao porto do Rio de Janeiro, surgindo então o caminho novo. Ainda no século XVIII, surgiu outra trilha para exploração dos diamantes – o belo Caminho dos Diamantes. (Todo o percurso planilhado com detalhes de altimetria é possível encontrar no (http://www.institutoestradareal.com.br/caminhos/diamantes/)

Foi esse caminho que decidimos fazer - seriam 8 dias pedalando , quase 400 km em estradas rurais e trilhas, com os mais diversos pisos de pedras grandes, pedras pequenas, areia, subidas e descidas e combinações de diferentes tipos. E o melhor - contato com a natureza ao extremo e com a cultura local.
Do percurso 26% são de asfalto,0,5% de trilha e 73,5% terra e mais dos 395Km 178 sao subidas e descidas...

mas,estávamos prontos, animados e abertos para tudo o que estava por vir.

Nosso ponto de partida Ouro Preto,

Ficamos na Pousada Vila Rica (antigo Ginásio Municipal e única construção civil com azulejos portugueses da cidade). Por coincidência o Caio ( dono da pousada) é um ciclista apaixonada pelas estradas de Minas ficou muito entusiasmando quando soube da nossa façanha,mas também muito preocupado com as condições da bike do Zé Marques. A suspensão estava totalmente travada. Então como todo bom ciclista nos ajudou a resolver o problema.








Foi na Praça Tiradentes (local onde a cabeça do mártir da independência, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi exposta em 1792), que encontramos pela primeira vez nossos novos amigos: Claudia Jak e Filipe, Claudia e Carlão e a Maria, pessoas que seriam fundamentais para o sucesso da nossa jornada. Foi mágico!!!!Empatia...foi simples assim. De repente parecia que éramos velhos conhecidos.

                                                                                                                           foto Claudia Jack
Seguimos para o Centro de Atendimento ao Turista, para pegar as credenciais. Muito legal a campanha proposta pelo centro de Turismo - 1 Kg de alimento não perecível, para a retirada dos passaportes. Tudo certo, passaportes em mãos, foto para registrar o primeiro carimbo do caminho.
                                                                                                foto Claudia Jack
Em uma viagem de bicicleta o caminho é muito mais importante que o destino final. Em minha opinião o percurso tem que ser feito lentamente,permitindo que os lugares visitados sejam explorados e interações sejam feitas. E foi o que fizemos exploramos Ouro Preto, antes de seguir pedalando.






Ouro preto,um Museu a céu aberto
Andar pelas ruas de Ouro Preto é como andar em um museu a céu aberto, nos sentimos transportados a uma outra época. É passear pela história.



As igrejas de Ouro Preto fazem parte do cenário arquitetônico e religioso  da cidade. Em cada rua, cada esquina, cada cume de morro, somos surpreendidos por uma igreja que guarda em suas paredes e altares, um pouco da história da cidade.



Igreja São Francisco de Assis
Construída entre 1766 a 1810, projeto de Manuel Francisco Lisboa. Essa igreja é considerada a obra-prima do período rococó no Brasil. A arquitetura, esculturas, talha e ornamentação são obras de Aleijadinho e a pintura e douramentos são de Manuel da Costa Ataíde. Belíssima!!!!!!
interior da Igreja São Francisco de Assis

                                                   Matriz de Nossa Senhora do Pilar
interior da Igreja São Francisco de Assis


Interior da Matriz Nossa Senhora do Pilar

Fiquei impressionada com a abundância de detalhes e de ouro do interior da Igreja Matriz Basílica de Nossa Senhora do Pilar, que é a mais rica em quantidade de ouro de Minas Gerais e segunda mais rica do Brasil A Matriz do Pilar têm aproximadamente 400 quilos de ouro e 400 de prata. Essa é uma das igrejas de Ouro Preto mais antigas, a primeira Matriz do Pilar foi erguida entre 1700 e 1703, depois foi demolida e construída a atual, isso por volta de 1728.


A Feirinha de Pedra Sabão-Largo do Coimbra


Ainda tivemos tempo para explorar a  Feirinha de Pedra Sabão  de funciona no mesmo local a 40 anos
Ouro Preto enche os olhos e lava a alma com essa sensação boa, só nos restou descansar para encarar no dia seguinte a nossa pedalada com destino a Diamantina.

Na manhã seguinte começamos oficialmente nossa pedalada pela Estrada Real...



1 Etapa 

Ouro Preto a Camargo 
Total - 28km







Saímos de Ouro Preto e durante alguns quilômetros pedalamos em paralelepípedo. Ruas estreitas e alguns carros passavam por ali. Na sequência, a estrada ficou um pouco mais larga e no final de uma subida, não muito íngreme, chegamos a um mirante da cidade.

Á partir daqui, seguimos por estrada em asfalto nos levaria até nosso próximo destino. Longas descidas, paisagens e muito verde, uma pedalada muito tranquila, até chegarmos a Mina da Passagem (www.minasdapassagem.com.br), a maior mina de ouro desativada, aberta a visitação.


Para chegar a Mina, só mesmo fazendo como os trabalhadores faziam no passado: Foi preciso embarcar em um carrinho de mais de 200 anos e percorrer os mais de 300 metros até o local de desembarque. 



A 120 metros de profundidade, o equivalente a um edifício de quarenta andares, encontramos um labirinto de imensas galerias suspensas por colunas de pedras. A aventura no interior da mina é curta (dura cerca de meia hora), mas cheia de curiosidades narradas pelos guias. Eles explicam o processo de extração, transporte e beneficiamento do ouro. Também lembram "causos" passados de geração a geração. Segundo a guia muitas pessoas perderam a vida na mina. Um dos acidentes mais famosos aconteceu em 14 de dezembro de 1936, quando dezessete trabalhadores morreram após uma inundação.



Na saída, a guia nos mostrou como é feita uma garimpagem.É necessário passar horas para se conseguir algumas gramas do metal precioso.

Depois da visita seguimos pedalando ate a próxima parada Mariana.
Chegamos à cidade e seguimos para carimbar nosso passaporte, na Casa do Turista.






Fundada há mais de 300 anos, Mariana foi eleita a primeira capital de Minas no século 17.Sua principal atração a Catedral da Sé.
Apesar da fachada modesta, é uma das igrejas mais ricas do Brasil, com lustres de cristal da Boêmia e onze altares ricamente ornados - dois são de Francisco Xavier de Brito, mestre de Aleijadinho. A Igreja também possui o Órgão Arp Shnitger, instalado em 1753. Sua fabricação em 1701 foi provavelmente feita pela família alemã Shnitger, que fabricava órgãos no século XVII. É o mais importante instrumento fora da Europa.






De Mariana seguimos em direção a Camargos. As subidas começam a surgir e as paisagens lindas também.
Era difícil resistir a cada marco que surgia em nosso caminho.





chegarmos em Camargos,
Um pequeno vilarejo, fundado em 1711, com a descoberta de um ribeirão aurífero. Devido a sua localização, no alto de um morro, possui uma vista de encher os olhos.
Ficamos hospedados na Pousada da Dona Cota e do Sr. Dario. De forma muito carinhosa, eles nos aguardavam com um café da tarde e um bolo, sobre a mesa.



  

Na manhã seguinte nos despedimos de Cota e Dario



2º Etapa
Camargos a Santa Bárbara 
Total - 58 km

Camargos - Santa Rita Durão - Catas Altas - Santa Bárbara.


Seguimos para o centro deste pequeno distrito, com apenas 40 casas, onde há um Cruzeiro talhado em Pedra Sabão, único, um dos símbolos da Estrada Real e uma antiga igreja, datada da metade do século XVIII, com torres baixas, frontão triangular simples e uma escadaria que dá acesso a sua entrada. Atualmente está fechada para restauração. Paramos em frente para registrar nossa passagem. E seguimos pedalando!!!






 



Uma parada em Bento Gonçalves 



Um pequeno distrito, pertencente a comarca da cidade de Mariana. No passado, este povoado foi um importante centro de mineração.Paramos para nos reabastecer no bar ao lado da Igreja do Rosário que infelizmente estava fechada.
Seguimos viagem, subindo, subindo... e novas paisagens foram surgindo...
De repente, ao fundo, passamos a ver a belíssima e impressionante Serra do Caraça. Uma vista de tirar o fôlego!!!!!




  

     uma pausa para o lanche


Próxima parada Santa Rita Durão

Chegamos ao distrito, com o sol a pique. Por isso, decidimos fazer uma parada com tempo maior em frente à Igreja Ns. Senhora de Nazaré (Nossa Senhora do Rosário dos Pretos). 

O distrito tem um “filho ilustre”, Frei José de Santa Rita Durão, nascido em 1720 e falecido em 1784, em Lisboa. Precursor da Literatura Brasileira foi autor de um dos maiores poemas épico brasileiro: 'Caramuru'. Postumamente, foi homenageado tendo sido Patrono da cadeira nº 9 da Academia Brasileira de Letras.



Daqui, seguimos rumo a Catas Altas. A cada nova curva, uma bela paisagem se formava a nossa frente! A dificuldade era não parar a cada metro para fotografar tudo o que víamos, pois quanto mais próximos estávamos da Serra, mas linda ficava a paisagem!




Após um pequeno trecho de asfalto, chegamos a Catas Altas, cidade fundada em 1702.
A Igreja Matriz Ns. Senhora da Conceição, localizada na praça central, é um dos mais importantes templos mineiros. Ela guardar documentos de celebração do primeiro batismo na capela, datado de 1712.
A visão que se tem da cadeia de montanhas, do lado oposto à igreja, é impressionantemente linda!







De  catas Altas seguimos pedalando na companhia da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e de suas paisagens exuberantes.










Nesse trecho paramos para apreciar o Bicame de Pedra, um aqueduto construído pelos escravos em 1792, de 4 metros de altura, onde suas pedras foram postas sob pressão, sem qualquer tipo de concreto, sobre o qual corria água para abastecer as antigas fazendas da região. 
Seguimos por uma estrada de terra, sem grandes subidas, mas eu e o Zé marques já estávamos bem cansados. Faltando uns 13 km para chegarmos a Santa Bárbara nosso destino final dessa etapa, nos deparamos com uma bifurcação e uma decisão difícil para ser tomada em grupo, tínhamos duas opções: seguir em frente e sair na rodovia estadual que chegava a cidade por asfalto – mais rápido ou seguir pela estrada de terra de difícil acesso. Já começava a escurecer, então Carlão comentou que achava prudente que seguíssemos pela rodovia, apoiado por Claudinha. Nós (eu e o Zé Marques não opinamos; estávamos de carona no grupo). A Claudia Jack me pareceu contrariada.
A chegada a Santa Bárbara foi tranquila. O trecho em rodovia foi de apenas 10 km. Após uma pequena subidinha em paralelepípedo, chegamos a matriz e no hotel Hotel Quadrado onde nos hospedamos.



Nos acomodamos e saímos a procura de um lugar para jantar... só tinha um pequeno detalhe: era véspera de natal, esta tarefa não foi tão simples assim...
Encontramos apenas uma pastelaria aberta e foi nela que fizemos nossa “ ceia de Natal” com pastéis e cerveja e muitas risadas.

3º Etapa

Santa Bárbara a São Jesus do Amparo

Total - 52 Km

Santa Bárbara - Barão de Cocais - Cocais - 

Bom Jesus de Amparo 


     igrejinha de Santa Barbára





No trecho de Santa Bárbara ate Barão de Cocais encontramos uma estrada em boas condições. Pedalamos por um caminho onde a mata era predominantemente fechada, possibilitando bastante sombra.O trecho termina na cidade de Barão de Cocais - fundada no século XVIII, mantendo como ponto de atratividade suas belas cachoeiras, além das ruínas do Congo Soco, uma antiga mina adquirida pelos ingleses no século XIX e que acabou se transformando em uma vila britânica, possuído hospital, capela e cemitério particular. 
Entre  Barão de Cocais e Cocais encontramos muitos “mata burros” foi necessário muita atenção - Sempre tinha alguem gritando "Olha o mata burro " . Também vários cruzamentos, muitas vezes os Totes não existiam - Por muitas vezes o Carlão ( o mais rápido com a Bike pedalava um trecho enquanto esperávamos ele confirmar o percurso ou salvação foram as planilhas que a Jak carregava com ela.  

Entretanto, é um trecho de rara beleza. No caminho passamos pelo Sítio Arqueológico da Pedra Pintada onde estão pinturas rupestres de 6.000 anos – mas infelizmente não foi possível visita-lo devido ao feriado de Natal.   Chegamos no vilarejo de Cocais - foi fundado em meados do século XVIII a partir da vinda de bandeirantes na busca pelo ouro, conservando, nos dias de hoje, traços da época de esplendor deste metal, como seus casarões e igrejas, sendo uma delas construída totalmente em pedras, datada de 1769. 






Passamos por uma grande floresta de eucaliptos. Mas infelizmente, estávamos na época do corte. Em pleno sol do meio dia, não havia onde se esconder do sol, o que dificultava muito a pedalada...
Eu e o Zé Marques empurramos a bike por alguns quilômetros . Realmente o sol castigava. Decidimos fazer uma pausa, assim que conseguimos uma sombra e aproveitamos para repor nossas energias.
Gastamos quase duas horas para percorrer 6 km. Não foi fácil, mas como, tudo que sobe uma hora tem que descer. Descemos, mas com cautela, havia muitas e tudo que queríamos era chegar sem nenhum arranhão.
Após uma longa descida, entramos numa floresta de eucaliptos, onde a temperatura ficou mais amena e suportável.






Seguimos em frente, atravessamos a BR-381 e seguimos por uma estrada de terra... Novamente sobe, sobe, sobe... 
Depois, seguimos por uma estrada em asfalto bem tranquila, com pouquíssimo movimento. Pegamos uma boa descida até Bom Jesus do Amparo. No caminho, ainda assistimos ao pôr do sol...


Chegando na cidade encontramos Fernando Gonçalves, um guia turístico da cidade que acompanha a Claudia Jak no facebook - uma pessoa fantástica e apaixonado pela Estrada Real. Como sabia que chegaríamos hoje nos aguardava. Ele nos acompanhou ate à pousada onde ficaríamos (Pousada Real) , onde fomos recebidos pelo pelo proprietário Joãozinho.
O nome Bom Jesus do Amparo é uma homenagem à imagem do Senhor do Bom Jesus, adquirida em Amparo, cidade de Portugal, por seu primeiro morador, coronel João da Motta Ribeiro, no século 18. A imagem do menino Jesus com seus 12 anos, considerada uma raridade, encontra-se na Igreja Bom Jesus do Amparo, localizada no centro da cidade.